09 de junho de 2016

Avaliação do Paralapracá mostra força do projeto e valorização da agenda da educação infantil

A consultoria Move, que realiza a avaliação do projeto Paralapracá nos municípios parceiros, concluiu no início deste ano a terceira onda de avaliações, referente a 2015. O levantamento mapeia, junto com as avaliações de 2014 e 2013, o que está dando certo e quais são os desafios que o projeto tem pela frente.

As avaliações evidenciaram principalmente dois pontos fundamentais: a valorização da agenda da educação infantil nos municípios parceiros e o reconhecimento do papel do coordenador pedagógico como formador. “As equipes de educação infantil passaram a ter mais visibilidade e mais voz dentro das secretarias de Educação com o Paralapracá”, afirma Janine Schultz, coordenadora de educação infantil do Instituto C&A. “Os coordenadores pedagógicos, por sua vez, começaram a ocupar um lugar muito mais relacionado à questão pedagógica e à formação dos professores do que antes”, aponta.

As avaliações partiram de três perguntas orientadoras: “Qual valor o Paralapracá agregou para aspectos da política municipal de educação infantil?”; “Qual valor o Paralapracá agregou para o desenvolvimento profissional de coordenadores pedagógicos e professores que atuam na educação infantil?”; e “Qual valor o Paralapracá agregou para o atendimento de qualidade das crianças de 0 a 5 anos das redes públicas municipais?”.

No campo da política, a escuta mostrou que o projeto Paralapracá contribuiu para dar visibilidade e garantir as especificidades da educação infantil na agenda dos cinco municípios parceiros do projeto entre 2013 e 2015. Mas o olhar minucioso em cada uma das cidades revelou ainda outros ganhos.

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Em Olinda (PE), desafios históricos da educação infantil passaram a ser contemplados no Plano Municipal de Educação (PME), como a garantia de uma política de formação inicial e continuada para todos os profissionais da educação infantil e a elaboração e implantação de uma proposta curricular específica para esta etapa da educação escolar.

Em Maceió (AL), o projeto Paralapracá contribuiu com a ação formativa da equipe técnica e influenciou a agenda na produção das orientações curriculares para a educação infantil — documento lançado na capital alagoana em outubro de 2015.

Em Natal (RN), o investimento em infraestrutura, materiais e formação continuada fortaleceu a identidade da educação infantil. A avaliação também demonstrou que o projeto Paralapracá instalou novos espaços de formação em serviço para profissionais da educação infantil, além de ter influenciado uma nova concepção de formação, com base na tematização da prática dos profissionais que atuam com a criança pequena. A tematização da prática é uma estratégia de formação que analisa situações do cotidiano com base em referência teórica e promove reflexões sobre elas, num ambiente colaborativo, de confiança e parceria.

O resultado de Maracanaú (CE) coincidiu com o de Natal ao apontar que a tematização de práticas tornou-se mais presente no município como estratégia formativa. A avaliação constatou, ainda, o reconhecimento de que a equipe técnica está mais próxima das unidades escolares e trabalhando com foco no desenvolvimento das crianças.

Em relação ao valor que o projeto Paralapracá agregou para os profissionais da educação infantil, os resultados das avaliações foram igualmente animadores e bastante convergentes entre os municípios. Em grandes linhas, as formações do Paralapracá influenciaram positivamente a prática cotidiana de professores e coordenadores pedagógicos nas cinco cidades que participam do projeto.

Em Camaçari (BA), o projeto contribuiu para o fortalecimento de concepções contemporâneas de educação infantil, além de ter auxiliado na configuração do papel do coordenador pedagógico que atua na primeira etapa da educação básica. “A grande sacada foi o foco [no coordenador pedagógico] como formador profissional mesmo. Isso não tem mais volta”, celebra uma coordenadora pedagógica de Camaçari no relatório avaliativo da Move (que não traz nomes das educadoras entrevistadas).

Nos outros quatro municípios, o projeto não apenas auxiliou na configuração do papel do coordenador pedagógico como também revelou que os profissionais dessa categoria passaram a ser reconhecidos como formadores também pelos professores, além de pelos seus pares.

Sobre o valor que o projeto Paralapracá agregou à qualidade do atendimento às crianças, a rodada de avaliações constatou um apanhado de conquistas. Em Maracanaú e Olinda, por exemplo, o Paralapracá promoveu os eixos da educação infantil abordados no projeto (brincar, organização de espaços, literatura, música, artes e exploração do mundo). “O brincar era mais mecânico. Agora tem cantinhos, a gente confecciona brinquedos com as crianças, tem experiências de manipular materiais diferentes, massinha”, aponta uma professora de Maracanaú.

Em Camaçari, as formações do projeto estimulam as profissionais da educação infantil a realizar a escuta de crianças no dia a dia das unidades. Em Maceió, coordenadores pedagógicos e professores apontam que o Paralapracá contribui para a exploração de múltiplas linguagens (arte, música, literatura) no cotidiano com as crianças. Em Natal, as formações contribuíram com as práticas de acolhimento das crianças e familiares, o que resultou em mais participação das famílias na vida escolar.

No que toca aos desafios da implementação do projeto nos municípios, as avaliações localizaram boas oportunidades para melhorar. Questões como a garantia do momento de formação na escola, a organização de documentos que institucionalizem princípios formativos para a rede, alinhados com a experiência do Paralapracá, a articulação de espaço efetivo de planejamento coletivo, além da sedimentação e qualificação crescente das práticas no cotidiano das unidades, apareceram como questões a serem equacionadas.

“Nesse momento, a avaliação nos ajuda nisso: a nos dizer onde estamos e como seguimos para garantir que os princípios do Paralapracá permaneçam nas redes municipais e não se percam como se fosse um trabalho que acabou”, assinala Janine. Tanto pela nobreza da causa da educação infantil quanto pela capacidade de transformação que possui, o projeto Paralapracá vai demonstrando, aos poucos, que chegou aos municípios para ficar.

(Informações: Avante)

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