01 de setembro de 2017

Brincar: por que e pra quê?

Pega-pega, esconde-esconde, pula corda; Mais que brincadeiras certamente são lembranças maravilhosas da infância de muitos de nós e talvez palavras sem nenhum significado para nossos filhos e crianças que conhecemos. Avanços tecnológicos, ritmo acelerado na vida das famílias atuais, violência urbana e uma agenda superlotada para os pequenos são alguns dos fatores que distanciam as crianças do universo das brincadeiras.

Uma pesquisa realizada pela Unilever mostrou que 26% dos pais priorizam que as crianças gastem mais tempo com atividades que as prepararão para o mundo do trabalho, enquanto que apenas 19% acham que seus filhos deveriam gastar mais tempo brincando. Curioso dessa informação é que não sabemos quais as competências serão requeridas quando essas crianças se tornarem adultos e forem exercer suas profissões. No entanto, criatividade, comunicação, habilidade para resolver problemas, trabalho em equipe são habilidades importantes em qualquer tempo e lugar.

A pesquisa também apontou para um dado que evidencia o desconhecimento que os pais possuem do papel da brincadeira espontânea para o desenvolvimento das crianças. Menos de 1/5 dos pais entrevistados afirmou que a brincadeira espontânea pode contribuir para que as crianças desenvolvam a criatividade, habilidades físicas, lado emocional, entre outros aspectos do desenvolvimento infantil. Esse número sobe para quase a metade dos pais quando se referem a situações estimuladas.

O brincar tem um papel fundamental no desenvolvimento infantil. As brincadeiras de faz de conta possibilitam às crianças vivenciar situações cotidianas, representar papéis sociais, lidar com sentimentos e emoções. É através do jogo simbólico que as crianças conseguem explorar e superar seus medos, compreender regras sociais e trocar experiências com outras crianças.

Dentre as brincadeiras presentes na infância, o faz-de-conta possibilita às crianças reviver situações que lhes causam medo, angustia ou outro tipo de emoção com a qual tenha dificuldade para lidar e processar a informação. Nessas situações, o brincar tem um importante papel na reorganização da informação, pois através do lúdico a criança consegue vivenciar a situação que lhe gera desconforto emocional, porém com possibilidades de usar o mundo imaginário para compreender melhor o mundo que a cerca. Winicott afirma que: “é a brincadeira que é universal e que é a própria saúde: o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde; o brincar conduz a relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia; finalmente a psicanálise foi desenvolvida como uma forma altamente especializada do brincar, a serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros” (WINICOTT, 1971, p. 63).

A brincadeira permite que a criança tenha uma posição de controle sobre a situação vivenciada e, por esta razão, o lúdico lhe dá o “poder” de tomar decisões de acordo com sua percepção. É por meio dessas brincadeiras que a criança simula situações em que faz justiça sobre algo que julga estar sendo injustiçada, tendo coragem para superar situações nas quais teria medo de enfrentar, por exemplo.

São muitas as razões que evidenciam a importância de garantir o brincar  como  um direito fundamental da infância. Ele está previsto na constituição brasileira em seu artigo 277 e posteriormente foi reforçado no Título I, arts. 3º e 4º do Estatuto da Criança e do adolescente e mais recentemente no Plano Nacional da Primeira Infância.

No entanto, embora previsto em lei, não conseguimos garantir que todas as crianças tenham esse direito preservado. Além das razões cotidianas já mencionadas que dificultam que as crianças brinquem livremente, 100 milhões de crianças no mundo são impedidas de vivenciarem plenamente sua infância em razão da exploração do trabalho infantil. A essas crianças não apenas o direito ao brincar, mas outros direitos humanos essenciais são negados.

Um provérbio africano diz que é necessária uma aldeia inteira para educar uma criança.  A Visão Mundial é uma das organizações que atua no Brasil e no mundo mobilizando pessoas, ideias e recursos para que todas as crianças possam se desenvolver plenamente e fazer isso de forma alegre e divertida, brincando!

Andréa Freire

Assessora de Educação da Visão Mundial

(Fonte: Visão Mundial – www.visaomundial.org.br )

 

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