A CRIANÇA E O ESPAÇO: A CIDADE E O MEIO AMBIENTE

Inspire-se - Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério

Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério

Olhar a cidade pelos olhos das crianças e, então, transformá-la. Esta é a filosofia que orientou o projeto Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério, realizado pela CriaCidade , a convite do Programa São Paulo Carinhosa, da prefeitura paulistana, no bairro que dá nome à iniciativa. Pautada na participação infantil, a ideia foi incorporar os desejos e necessidades dos pequenos em políticas públicas, e projetos arquitetônicos e pedagógicos, reivindicando o exercício da cidadania como um direito a ser respeitado desde os primeiros anos de vida. Como resultado, o Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério, encerrado no fim de 2016, tem transformado um bairro considerado violento e degradado em uma comunidade que vive, no seu dia a dia, a expressão da vontade infantil.

O projeto começou em 2015 e levou a cabo diversas sessões e dinâmicas de escuta das crianças, para descobrir o que os moradores de 3 a 11 anos pensavam do bairro. Em parceria com cursos universitários de Arquitetura, buscou-se entender o que os pequenos achavam e desejavam para os cortiços e pensões onde a maioria vivia. Da porta de casa para fora, eles puderam contar como percebiam o espaço público como local do brincar.

Neste processo, foram usadas, entre outras dinâmicas, contações de histórias, desenhos e caminhadas que resultaram na organização do mapa afetivo das crianças do Glicério. Numa das atividades, os adultos andaram de joelhos pelas vias, para vivenciar a cidade como os pequenos:

“Fui me colocando no lugar das crianças e vendo a cidade com seus olhos: as calçadas esburacadas e irregulares pareciam uma montanha russa de emoção, os prédios, tão enormes, pareciam que iam me devorar”, relata Nayana Brettas, fundadora da CriaCidade  e coordenadora do Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério.

O projeto foi implementado sob três eixos: empoderamento de adultos e crianças por meio da formação; ressignificação dos espaços públicos através da ocupação e da transformação; e atuação em rede com diversos setores da sociedade. Para o primeiro, o Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério engajou os educadores de três escolas municipais, os familiares das crianças, as jovens lideranças comunitárias e os funcionários da unidade básica de saúde do bairro e da assistência social, a fim de melhorar o atendimento para os pequenos cidadãos.

As formações com as famílias e os jovens do Glicério tiveram o objetivo de conscientizá-los sobre como dar continuidade à valorização do olhar infantil para a comunidade e à ocupação do espaço público, depois que o projeto se encerrasse. Numa resposta às demandas das mães apresentadas nesses encontros, foram dadas aulas de artesanato, que resultaram na geração de renda para aquelas que passaram a comercializar seus produtos.

O Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério também promoveu atividades culturais regulares ao ar livre, como rodas de leitura e apresentações de teatro e circo. Esses momentos serviram para ajudar crianças e adultos a naturalizar o a rua como espaço educador e atraente para os pequenos. Uma vez por mês, as crianças do Glicério passaram a realizar cortejos de maracatu pelas ruas do bairro. Nessas ocasiões, eles exibem desenhos, textos e poesias para toda a comunidade. No que diz respeito à atuação em rede, o projeto conta com diversas parcerias públicas e privadas, como as secretarias municipais de Educação e Cultura, e empresas.

Numa experiência concreta de transformação da cidade pelos olhares das crianças, foi realizado em 2016 o Cidade que Brinca, um desdobramento do Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério. Nele, três ruas do bairro sofreram intervenções para integrar um circuito lúdico, que refletisse o imaginário infantil: asfaltos e muros foram pintados, o mobiliário público foi adaptado e, em alguns casos, virou brinquedo.

As intervenções aconteceram em grandes eventos recreativos organizados no Glicério e foram realizadas em conjunto com os pequenos, que receberam a visita de artistas para os ajudarem na concretização de seus sonhos para a cidade. O tema escolhido pelas crianças foi “criaturas fantásticas”. Como conseqüência, as fachadas das casas foram pintadas, uma delas virou castelo com jardim e, em pleno asfalto, surgiu um lago com jacaré. É ainda possível se deparar com uma girafa de duas cabeças e, em outro ponto, a cauda de um dinossauro vira uma onda gigante, onde as crianças podem escorregar. Numa das escolas, a diversidade de nacionalidades que marca o Glicério resultou num prédio colorido e instigante.

Para marcar seu incômodo com a sujeita das ruas, tão citado nas sessões de escuta, as crianças decidiram pintar os focos usuais de sujeira em amarelo, para destacá-la. Após solicitações, o poder público instalou lixeiras e melhorou a iluminação. Passada a fase de intervenções do Cidade que Brinca, os espaços continuam sendo ocupados pela comunidade. A escola que foi pintada costuma receber visitas de outros alunos para aulas públicas e contações de histórias. As ruas que integram o circuito abrigam brincadeiras espontâneas. E os cortejos de maracatu seguem levando alegria e energia infantil pelas ruas do Glicério.

“Posso resumir a forma como trabalhamos o Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério com dois termos fundamentais e que foram orientadores: escuta focada no brincar e no vínculo afetivo, e respeito à linguagem das crianças”, resume Nayana.

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2016 Secretaria Executiva da Rede Nacional Primeira Infância - Triênio 2015/2017: CECIP - Centro de Criação de Imagem Popular