11 de outubro de 2016

Investir no desenvolvimento da primeira infância é essencial para que mais crianças e comunidades prosperem, conclui a nova edição do The Lancet

Six month old baby Maniratou Mahamadou smiles at her mother's, Habsatou Salou, attention during malnutrition screening at the Boukoki Integrated Health Centre.

Cerca de 43% – 249 milhões – das crianças menores de 5 anos em países com baixa e média renda correm um alto risco de ter prejuízos em seu desenvolvimento devido à extrema pobreza e a atrasos em seu crescimento. Essas são as conclusões da nova série do The Lancet, Advancing Early Childhood Development: from Science to Scale.

O The Lancet revela que as intervenções voltadas ao desenvolvimento da primeira infância – saúde, nutrição, cuidados, segurança, proteção e aprendizagem – podem custar apenas 50 centavos de dólares por criança, por ano, quando combinadas com os serviços existentes, como serviços de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Banco Mundial e o UNICEF contribuíram com as pesquisas e ofereceram orientações ao The Lancet.

Os achados dessa série colocam em destaque a importância de se reforçar o compromisso mundial com o desenvolvimento da primeira infância. Sem esse investimento, estima-se que os indivíduos possam perder um quarto de sua renda média anual na idade adulta, enquanto os países podem perder até duas vezes seu investimento do PIB em saúde e educação. As consequências não afetam somente as gerações presentes, mas também as gerações futuras. 

“Agora sabemos quão alto é o custo dessa inércia e há provas de que esse é o momento de agir. Esperamos que as evidências apresentadas no The Lancet ajudem os países a ampliar o atendimento a gestantes e crianças pequenas, ofertando serviços de prevenção e promoção capazes de melhorar os resultados de desenvolvimento da criança, assim como sua saúde, bem-estar e produtividade econômica na idade adulta”, diz a professora Linda M. Richter, PhD., coautora do The Lancet, DST-NRF Centro de Excelência em Desenvolvimento Humano da Universidade de Witwatersrand, Johannesburgo, África do Sul. 

As pesquisas mostram que o cérebro infantil se desenvolve com mais rapidez nos primeiros 2-3 anos do que em nenhum outro momento da vida. Esses primeiros anos são, também, um período crítico de adaptação e capacidade de resposta às intervenções feitas. Desnutrição, falta de estímulo e proteção adequados na primeira infância têm efeitos nocivos, que podem ter repercussões de longo prazo nas famílias e na comunidade. 

“A ciência e a economia são, claramente, a favor do investimento nos primeiros mil dias de vida, começando com a gestação”, afirma Keith Hansen, vice-presidente de Desenvolvimento Humano do Grupo Banco Mundial. “Quando não fazemos isso, a criança fica para trás antes mesmo de colocar os pés na escola e sofre toda uma vida de desvantagens. Por outro lado, quando há esse investimento, podemos fazer uma grande diferença em sua capacidade de participar plenamente das economias do amanhã, como cidadã ativa e produtiva. A pesquisa do The Lancet é uma prova a mais da importância dessa agenda”.  

Os autores enfatizam o papel decisivo do setor de saúde como porta de entrada para as intervenções na primeira infância, particularmente no campo do cuidado. A capacidade do setor de dar apoio a mulheres e crianças no período crítico, que vai da concepção até os primeiros anos de vida, representa uma oportunidade para integrar investimento de baixo custo – como o Care for Child Development y Reach Up and Learn da OMS e do UNICEF – a serviços existentes de saúde e nutrição para mães e crianças. Observou-se que esses serviços ajudam a melhorar a qualidade da atenção materna e do desenvolvimento geral de crianças pequenas, ao mesmo tempo em que contribuem para o bem-estar dos cuidadores.

“A ciência mostra que biologia é sinônimo de destino. As experiências das crianças nos primeiros dias e anos de vida modelam e definem seu futuro”, defende Anthony Lake, diretor executivo do UNICEF. “Devemos converter os achados da ciência em um alerta porque o desenvolvimento de milhões de meninos e meninas corre perigo. Neste momento, 43% das crianças de países com baixa e média rende podem não alcançar seu potencial cognitivo. Nenhum desses países pode correr o risco de perder quase a metade do potencial cerebral de seus cidadãos mais jovens – e muito menos os países com rendas baixas e médias”. 

De acordo com os autores da série, essas intervenções precisam estar disponíveis mais cedo. “Historicamente, os investimentos na primeira infância se concentraram em crianças em idade pré-escolar. Mas, agora, sabemos que intervenções voltadas ao período anterior, desde a concepção até os dois primeiros anos de vida, podem reduzir de maneira significativa os problemas de crescimento e saúde da criança, ajudando-a a alcançar seu potencial pleno, do ponto de vista do desenvolvimento”, diz o professor Stephen Lye, PhD., coautor da série, diretor executivo do Instituto Fraser Mustard para o Desenvolvimento Humano, da Universidade de Toronto, Canadá.

Os autores propõem várias maneiras de a comunidade mundial ampliar o apoio a serviços destinados ao desenvolvimento da primeira infância:

  • Incentivar a adoção e a ampliação de políticas voltadas à criação de ambientes acolhedores para famílias, capazes de proporcionar o cuidado à criança pequena.
  • Fomentar a capacidade e coordenar esforços para promover o desenvolvimento da primeira infância por meio dos serviços existentes de saúde, nutrição, educação, serviço social e proteção infantil.
  • Fortalecer a medição e assegurar a responsabilização pelos serviços dedicados ao desenvolvimento da criança na primeira infância.
  • Promover pesquisas e fomentar a liderança e a participação mundial e regional nessa agenda.
  • Ampliar a vontade política e o financiamento de ações de advocacy para a promoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS).

“Investir nas crianças pequenas é um imperativo moral, econômico e social. Os ODS oferecem uma visão promissora para a saúde de crianças e adolescentes, mas pressupõem vontade política e um aumento do investimento no desenvolvimento da primeira infância para que essas metas ambiciosas possam ser alcançadas. As intervenções em favor da primeira infância não apenas beneficiam as crianças de hoje, mas também repercutem diretamente na futura estabilidade e prosperidade dos países”, afirma Margaret Chan, diretora-geral da OMS.

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A série sobre o desenvolvimento da primeira infância do The Lancet foi apresentada em um evento com parceiros, em Washington, dia 5 de outubro de 2016, um pouco antes das Reuniões Anuais do Grupo do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. No dia 6 de outubro, as Reuniões Anuais realizarão um importante evento público sobre o tema, presidido por Jim Yong Kim, presidente do Grupo do Banco Mundial, intitulado “Human Capital Summit: Investing in the Early Years for Growth and Productivity”. Durante o evento, serão apresentados países em desenvolvimento que estão ampliando seus investimentos na população mais jovem.

Mary Young MD DrPH
Director, Center for Child Development
China Development Research Foundation
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