10 de junho de 2013
O brincar é parte essencial da educação infantil, segundo especialistas
Instituído no ano de 1999, por uma iniciativa da , o Dia Internacional do Brincar é celebrado em 28 de maio. No Brasil, a data foi marcada por mobilizações para reforçar a importância do brincar na infância. Conforme previsto no artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, parágrafo IV, o direito à liberdade compreende “brincar, praticar esportes e divertir-se”, ações que podem ser desenvolvidas no ambiente escolar.
O brincar também é reconhecido pela Convenção Internacional dos Direitos da Criança, em seu artigo 31, e pelo artigo 227 da Constituição Federal, mas, conforme afirma a professora do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Brincar, Infância e Diferentes Contextos, Cleide Mussini Batista, isso não significa a plena aplicabilidade no contexto institucional da educação infantil e do ensino fundamental. “Há certa tendência de valorizar a educação formal em detrimento das culturas lúdicas infantis para ampliar e estimular o pleno desenvolvimento da criança como pessoa em condição peculiar de formação. Refiro-me à predominância de atividades dirigidas pelo professor, que impõem a homogeneização dos tempos, espaços e das vivências infantis”, disse.
A construção de uma escola cidadã gera muitos desafios para os professores, de acordo com Batista. “Entre os desafios, destaca-se o de conjugar uma educação cidadã na qual a liberdade e a autonomia sirvam para fins emancipatórios, contrastando com uma realidade de ausências e negações dos direitos considerados fundamentais”, explicou.
Segundo Adriana Friedmann, educadora, doutora em Antropologia da Infância, especialista na temática do brincar e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento – NEPSID, o tema do brincar ganhou visibilidade nos últimos 15 anos, com inúmeras discussões e marcos legais, embora ainda seja timidamente relacionado ao cotidiano das crianças. “É imprescindível que se ofereçam tempos e espaços para a criança brincar livremente, para que ela possa escolher com quem, do que, com que e onde brincar. Elas também precisam ter a oportunidade de aprender brincadeiras e outras atividades lúdicas que fazem parte do patrimônio cultural da humanidade”, analisou Friedmann.
Na escola, as atividades pedagógicas podem ser aliadas ao brincar, mas, conforme as especialistas, o brincar é expressão natural da criança. Nessa fase, ela precisa ter um período totalmente livre para brincar espontaneamente e ampliar sua imaginação, o contato com a natureza, sua maneira de se relacionar com o mundo e com o próprio corpo, fatores considerados essenciais para um desenvolvimento pleno e saudável.
A brincadeira pode ser um caminho para o educador conhecer cada criança e, a partir disso, adaptar as atividades de acordo com os interesses identificados. “Nesse cenário, o educador tem que compreender que o brincar não é somente um recurso para motivar, transmitir ou fixar conteúdos, mas, sobretudo, uma forma de expressão não verbal através da qual as crianças se mostram por inteiro, se comunicam e se desenvolvem”, disse Friedmann.
O educador no brincar
A Rede Nacional Primeira Infância, formada por organizações da sociedade civil, governo e setor privado, atua pela garantia dos direitos das crianças de 0 a 6 anos. Entre as ações desenvolvidas, está a mobilização pelo brincar. “No cotidiano das crianças há uma variação entre a escola pública, a particular e a comunitária. De maneira geral, ainda falta muito para existir um brincar autêntico. Brincando a criança é ela mesma e esse movimento é independente, vai acontecer no ritmo de cada um”, explicou a coordenadora da linha de mobilização e controle social da Avante e membro da Rede Nacional Primeira Infância – GT do Brincar, Ana Bolívia Marcílio.
Marcílio ressalta que, para brincar, não é preciso brinquedo. “A criança só precisa de seu corpo. O espaço verde, com árvores, folhas, areia, ou terra, é o melhor para esse tempo. Isso já traz toda a diversidade e cultura local”, disse. Ainda segundo a integrante do GT do Brincar, na fantasia a criança se transforma e é papel do educador propiciar um ambiente para a integração no brincar. “Na educação infantil, podemos preparar o local, organizar o ambiente para aumentar a capacidade de fantasia da criança. Mas ela não precisa de muito, folhas de papel, por exemplo, já são o suficiente para a criança se transformar”, disse.
Possibilidades para inserir o conteúdo educativo na atividade lúdica sem ferir a espontaneidade do brincar são discutidas por pesquisadores há algum tempo, segundo explica a mestre em Psicologia da Educação e do Desenvolvimento Humano, membro da diretoria da Associação Brasileira de Brinquedotecas – ABBrin e da International Toy Library Association – ITLA, Sirlândia Teixeira. “Quando utilizamos os jogos, brinquedos e brincadeiras como instrumentos educativos, precisamos levar em conta que o fato de participar de um jogo não garante a aprendizagem. Outra questão importante é que, ao se propor a atividade lúdica como instrumento educativo, pode-se eliminar as características desta atividade, igualando-a a outras atividades pedagógicas”.
Para Teixeira, a brincadeira deve estar presente como suporte da aprendizagem no contexto dos conteúdos, dentro e fora da sala de aula. Neste sentido, a brinquedoteca apresenta-se como espaço onde a criança pode aprender e interagir com os amigos. “Na brinquedoteca, o professor pode trabalhar conteúdos curriculares de uma forma motivadora e prazerosa, uma vez que nos diferentes tipos de jogos e brinquedos são contemplados diversos conteúdos das disciplinas. Porém, também é importante que o professor reserve um tempo na grade curricular para o brincar acontecer de forma livre e espontânea”, disse.
Nas escolas públicas, os alunos possuem, geralmente, 15 minutos de intervalo para o lanche e a brincadeira. Segundo a gestora institucional da Aliança Pela Infância, Giovana Barbosa, esse tempo é curto para que a criança possa estruturar uma brincadeira. “Há o desafio de continuar olhando para o brincar também no primeiro ciclo do ensino fundamental, porque a criança não deixa de ser criança aos 8 anos. O ideal seria ter esse espaço na escola até os 12 anos, pois muitas vezes a escola é o único lugar em que a criança tem essa atividade”.
Para sensibilizar a sociedade sobre o assunto, a Aliança Pela Infância promoveu aSemana Mundial do Brincar, campanha que envolveu 102 municípios, 85 mil crianças e 14 capitais brasileiras. “A abertura para o tema existe e as pessoas se identificam com essa necessidade. No entanto, muitas vezes, os professores não conseguem desenvolver essa atividade pelas dificuldades encontradas na escola. Acho que estamos no caminho para colher uma mudança de consciência sobre a importância do brincar”, afirmou Barbosa.
Informações Pamella Indaiá/ Blog Educação