26 de abril de 2011

Pesquisa nas redes pública e particular de 895 cidades traça perfil de atividades infantis

Na hora de brincar, as escolas brasileiras preferem os espaços abertos, como parquinhos e gramados, para divertir as crianças. Já as salas fechadas com televisões e computadores – recursos já bastante presentes no cotidiano dos alunos dentro e fora de sala de aula -, apesar de não serem descartadas na hora da diversão, não figuram como principal opção de área para interação escolar.

A conclusão é de uma pesquisa inédita do Programa pelo Direito de Ser Criança, da Unilever, com quatro mil escolas de educação infantil e ensino fundamental de todas as regiões do País – o levantamento considerou unidades públicas e privadas de 895 municípios.

A ideia do mapeamento é saber onde, como e com o que as crianças brincam na escola, detectando as principais práticas adotadas pelos educadores. O programa também premia as escolas que apresentam as iniciativas que valorizam a experiência do brincar.

Nas escolas de ensino infantil, o espaço mais popular para as brincadeiras é o parquinho, onde as crianças utilizam brinquedos como escorregador, balanço e gangorra, com 88% de adesão.

Em segundo e terceiro lugar, aparecem, respectivamente, a brinquedoteca, com 84%, e as áreas abertas, com grama e terra, com 77% da preferência. Já a sala de computação surge entre os últimos, considerada como mais importante por 25% das escolas.

O parquinho também é o mais lembrado entre as escolas de ensino fundamental, com 85% das citações. Mas a quadra esportiva também surge como espaço importante de interação (82%), junto com a sala de dança, o teatro e o auditório (76%). O uso das salas de vídeo e computador entre as crianças maiores também continua abaixo da média: 42% e 41%, respectivamente.

Tanto nas escolas de ensino infantil quanto fundamental, espaços como laboratório de ciências, cozinha e viveiros de animais foram os menos utilizados.

Apesar da liberdade que os espaços mais utilizados pelas escolas podem proporcionar, educadores afirmam que o brincar pode ser mais criativo. “As escolas estão retomando a ideia da espontaneidade na brincadeira, mas a presença de espaços estruturados, como o playground, ainda é forte”, afirma Renata Meirelles, pesquisadora do brincar.

“A criança, especialmente na primeira infância, deve ser produtora de sua cultura e gerenciadora de sua atividade. E isso não significa que o professor deva se afastar e se anular da atividade.”

A opção por deixar recursos digitais de lado, segundo as escolas, surge exatamente pelo fato de eles já permearem a rotina das crianças.

“Não damos esse enfoque porque elas parecem que já nascem sabendo de tudo isso”, brinca Fatima Perin, diretora pedagógica e uma das proprietárias da Escola Fazendo Meu Caminho, na Pompeia, zona oeste de São Paulo. A unidade tem 50 crianças matriculadas.

“Optamos por oferecer aos alunos a parte mais lúdica da experiência deles, resgatando a contação de histórias, a brincadeira de roda, de corda, de peão. A criança tem que ser criança por mais tempo, sem esse foco no consumismo que temos hoje.”

Liberdade
O contato com a natureza, especialmente nas escolas de educação infantil, é tido como um trunfo na hora de brincar. “Como temos uma área externa muito ampla, tudo é transformado por eles em parte da brincadeira: lama, cimento, terra, pedras, barranco”, explica Evaine Célia Desidério, diretora-geral da Escola Municipal São Francisco, que fica em Luzerna (SC) e tem mais de 200 alunos, só na educação infantil. A unidade foi uma das premiadas pelo programa.

Mesmo assim, as escolas afirmam que não eliminam o computador, o DVD, o aparelho de som e a televisão da rotina dos seus alunos. “Nossa prioridade é deixar que eles descubram a natureza e o espaço, mas não é por isso que não vamos ter uma brinquedoteca, um parquinho e uma sala de informática bem equipada – afinal, há dias em que chove e que não temos opção a não ser mantê-los dentro da sala de aula com esses recursos”, conta Evaine.

Perfil do estudo
– 63% das escolas são públicas
– 15% das cidades brasileiras estão representadas

Defasagem no Brasil
19,94% dos alunos nunca frequentaram pré-escola, segundo o Programa Internacional de Avaliação de Alunos

Comparação
8,39% é o porcentual médio nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Fonte: Mariana Mandelli – O Estado de S.Paulo

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