09 de março de 2017

Volta às aulas: adaptação com participação dos pais gera segurança e tranquilidade

Volta às aulas: adaptação com a participação dos pais gera segurança e tranquilidade aos pequenos

 

“Filha, bom dia, estamos indo para a creche e a mamãe vai te deixar lá e depois vai te buscar.”

A fala é repetida todas as manhãs por Maria Graziela Souza de Jesus à sua filha Laura, de 11 meses. A mãe garante que a criança compreende o que diz. Desde janeiro deste ano, a pequena frequenta a Unidade Educacional Centro de Formação Semente da Vida, no bairro Nova Flamboyant em Campinas/SP.

Em cinco dias, Laura estava totalmente adaptada à nova rotina na creche, graças a um novo procedimento de recepção das crianças adotado pela entidade, inserindo os familiares na fase de adaptação dos pequenos.

A Associação Amigos da Criança (AMIC Village), também adotou o procedimento diferenciado para acolher as crianças que pela primeira vez frequentam a creche, e teve resultados positivos imediatos com o novo acolhimento.

“Nos anos anteriores, a adaptação consistia nos pais deixarem a criança aqui e irem embora, como acontece na maioria das creches. Este procedimento era mais demorado e sofrido para as crianças, porque era uma ruptura da criança com o mundo no qual estava acostumado. Com esta nova acolhida, reduzimos o tempo de adaptação. Algumas crianças levaram somente três dias para se familiarizarem com a creche. Outras demoram um pouco mais, mas o processo traz muito mais segurança à família, tranquilidade às crianças e conhecimento sobre os hábitos dos pequenos à equipe de educadores”, afirmou Amanda Aparecida Verzaro, orientadora pedagógica da AMIC Village.

Maria Teresa Couceiro Ferreira, orientadora pedagógica da Semente da Vida, lembrou que o antigo procedimento de acolhimento era exaustivo para a criança e também para a equipe da entidade. “Mudamos a dinâmica do acolhimento. Incluímos um pai ou responsável pela criança e diminuímos o tempo de permanência, que passou a ser das 7h30 às 9h30 e a tarde das 13h às 15h”, explicou.

Neste período junto aos filhos nas creches, os familiares acompanhavam a nova rotina das crianças, como a hora da alimentação, o momento do banho.  “Percebemos que as mães que estão fazendo o acolhimento estão felizes, mais seguras e que já confiam e valorizam o nosso trabalho, porque elas presenciam o olhar carinhoso e cuidadoso das profissionais com as crianças e percebem que nossa atividade colabora com o desenvolvimento da criança”, avaliou Amanda.

“Um dos pontos mais positivos desta nova maneira de fazer o acolhimento é a aproximação da família com a instituição. Já se cria um vínculo entre direção, professores e famílias. Os pais percebem que aqui temos uma unidade de convivência e trabalho e que não existe superioridade para tratar com a criança. Isso quebrou qualquer barreira que poderia existir”, observou Maria Teresa.

Mudanças

Tanto na AMiC Village quanto na Semente da Vida, entidades parceiras da Fundação FEAC, a percepção de que o acolhimento às crianças precisava mudar aconteceu a partir dos encontros de formação que ocorreram durante todo o ano de 2016 nas creches dentro do programa Primeira Infância em Foco, ligado ao Departamento de Educação da FEAC.

“A mudança foi feita a partir da orientação e sugestão da Andrea Patapoff. Com um olhar para a primeira infância, ela viu possibilidades que poderiam deixar o trabalho na creche melhor e mais qualificado, e uma das questões apontava para a transformação deste espaço no sentido de trazer mais segurança e confiança entre os membros da comunidade escolar”, disse Maria Teresa.

Na AMIC Village, foi a formadora Leila Oliveira que chamou a atenção da equipe sobre a necessidade de realizar a adaptação com os pais e assim, garantir que a aproximação com as famílias acontecesse desde o primeiro contato com a entidade.

“A possibilidade das mães acompanharem todo o trabalho realizado dentro da entidade, ao mesmo tempo que a equipe conhece as particularidades das crianças, é muito gratificante.  A família está acreditando mais em nosso trabalho, levando novos conhecimentos sobre a evolução de seus filhos e percebe que aqui tudo é pensado para a criança, que se desenvolve com mais plenitude e autonomia”, frisou Amanda, que já planeja aprimoramentos para o acolhimento do próximo ano.  “Queremos ampliar o acolhimento e trazer também familiares de crianças mais velhas para conhecerem o cotidiano da creche”. NA AMIC, 40 crianças estão na fase de adaptação e na Semente da Vida, 22 já passaram pelo processo desde janeiro de 2017.

Desenvolvimento

O período de adaptação dos pequenos na creche é essencial, pois as experiências iniciais influenciam em seu desenvolvimento. A criança, quando chega ao novo ambiente, já possui identificação com a figura de um adulto e apresenta um comportamento de apego em relação ao mesmo. A segurança transmitida pela figura de apego traz implicações diretas ao bem-estar e desenvolvimento da criança.

“Se a figura de apego – algum familiar- permanecer na creche durante o período de adaptação, isso vai proporcionar uma base segura para o pequeno estabelecer vínculos afetivos, tanto com as educadoras como para explorar o novo ambiente, tornando-os conhecidos”, explicou a assessora técnica do Departamento de Educação da FEAC, Adriana Silva.

Segundo Adriana, a experiência do familiar estar na creche e cuidar do filho na presença do educador foi extremamente positiva e gerou na criança um sentimento de segurança, ao mesmo tempo em que possibilitou ao educador aprender sobre o bebê. Assim, os sentimentos dos pais foram positivos, promovendo uma aproximação com a creche.

Aprovação

Quando a direção da Semente da Vida propôs a mudança do acolhimento das crianças no início de 2017, os familiares aceitaram e aprovaram imediatamente a mudança. “A gente teve a noção de como é o dia a dia das crianças na creche e os cuidados das professoras e monitoras com eles. Eu pude acompanhar tudo: a hora do lanche, da brincadeira, e todas as outras atividades da entidade. Isso despertou minha consciência para a importância dos pequenos vivenciarem esta rotina da creche, e como isso influencia diretamente o desenvolvimento deles”, afirmou Talita Cristina de Jesus Gomes, que este ano acompanhou a filha mais nova, Ana Júlia, de nove meses, em seus primeiros dias na nova rotina escolar.

“Achei ótimo esse período de adaptação. Me passou mais segurança ver o comportamento dela aqui na creche e perceber que a equipe é muito prestativa. E ela também se adaptou sem estresse porque eu estava por perto. Assim, vou trabalhar tranquila”, definiu Maria Graziela, a mãe da Laura.

Adaptação e arte

Na AMIC Village, as mães que foram acompanhar a adaptação dos filhos contaram ainda com uma oficina de artesanato oferecida em parceria com o Projeto Intergeracional da Secretaria Municipal de Cidadania Assistência e Inclusão Social.

Segundo a arte educadora Silvia Helena Martins Bearzotti, na oficina realizada uma vez por semana, a intenção é que os participantes aprendam a fazer brinquedos para seus filhos, a partir da noção de costura e técnicas artesanais. “O principal objetivo é promover o relacionamento entre os familiares e educadores e aproximar as mães da escola.

Concentrada em recortar o colorido feltro que se transformará em um urso para a filha Eloísa, de 1 ano e quatro meses, Maria Auxiliadora da Silva disse estar surpresa e feliz com a nova rotina da filha na creche. “A princípio eu queria que minha filha viesse pra creche só a partir dos 4 anos, mas devido à minha necessidade, precisei que ela entrasse agora na entidade e mudei de opinião. Hoje eu penso que ela poderia ter entrado mais cedo. Quando a gente acompanha e entende a rotina da creche, podemos ver o carinho que a equipe tem pelas crianças e também pelas mães e hoje tenho convicção da qualidade do trabalho desenvolvido aqui na AMIC. Sei que aqui é um lugar bom para que minha filha possa brincar feliz, se sentir segura, socializar com outras crianças e ter uma rotina. Pra mim, a adaptação foi ótima, porque acabou com qualquer pensamento ruim sobre como minha filha estaria reagindo a esta adaptação comigo à distância. Saber que estou há poucos metros da Eloisa para qualquer coisa que ela possa precisar de mim, é muito reconfortante. Aqui não há barreiras para que o trabalho da escola seja conhecido e acompanhado pelos pais”, definiu.

Saiba mais: Semente da vida: www.sementedavida.org.br

(Fonte: Fundação FEAC)

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