04 de outubro de 2011

A mística das antigas brincadeiras infantis

Muito me assustou ouvir pela televisão que crianças de apenas quatro anos de idade já estão sendo levadas aos consultórios médicos com: dores nos músculos, articulações e nervos decorrentes de esforços repetitivos pelo uso excessivo e sem disciplina de aparelhos eletrônicos; dores na coluna por uso de sapatos inadequados para a idade, sapatos com saltos que causam desajustes no esqueleto ainda em formação; obesidade, diabetes e pressão alta por falta de movimentos físicos. Se o moderno estilo de vida é excelente para o desenvolvimento cerebral das crianças, o mesmo não é possível dizer em relação a um correto e saudável desenvolvimento físico e psicológico.

Tarefa nada fácil é permitir que as crianças sejam crianças, diante do apelo da sociedade moderna que tem a seu favor um rico sistema de propaganda e comércio. Como impedir que uma criança calce sapatos de salto alto, se nem são mais encontrados nas lojas calçados adequados para esta fase do desenvovimento. O que antes era uma brincadeira que preparava a entrada no mundo adulto, hoje vestir-se como os pais tornou-se uma regra, que mal nenhum teria se não afetasse a saúde física e psíquica dos pequenos. É de conhecimento de todos que maquiagem, ou melhor, produtos químicos em geral estragam a pele, as unhas, os cabelos; que não respeitar a fases de desenvolvimento faz com que as crianças amadureçam antes do tempo. E a fruta e o ser humano só são bons quando lhes é permitido amadurecerem naturalmente.

Nada adianta ficarmos relembrando o passado com saudosismo. É impossível pararmos a marcha do tempo. O melhor é respeitarmos o seu caminhar e nos adaptarmos a ele. Também não podemos e nem devemos acreditar que temos mais poder do que a sociedade na criação de nossos filhos. Dou, então, minha colaboração relembrando algumas brincadeiras infantis que coloboram para um perfeito desenvolvimento global das crianças. Mas, relembrar apenas não me parece suficiente, pois creio que nenhum pai e nenhuma mãe se esqueceram das brincaderias que tanto lhes deram prazer.  Se não as transmitem para os filhos creio que seja porque não encontram não apenas tempo, mas também espaço.

Diante desta reflexão, parece que os espaços de diversão e de convívio entre os pequenos ficam sendo as escolas, para quem, então, transmito ensinamentos pouco ou nada divulgados ao grande publico, por serem eles conhecimentos iniciáticos, que encontram apenas agora o momento ideal para serem compartilhados. Não sendo a minha intenção colocar mais uma tarefa nas mãos dos professores, mas sim conhecendo a grandiosa missão que ocupam no mundo e a imensa capacidade de doação que possuem, eu tentarei transmitir para eles o significado místico, isto é misterioso, de algumas brincadeiras que eles “curtiram”.

– Cabra-cega, que fala da paixão, mostrando que os apaixonados agem por instinto, que termina por deixá-los tontos e cegos perante as escolhas que fazem na vida.

– Macaquinho ou Amarelinha fala da jornada humana que vai do “inferno” ao “céu”, passando o caminhante por diversos obstáculos, representado pela casca de banana, os quais podem derrubá-lo, atrapalhando e atrasando sua caminhada.

– Anelzinho, objeto que representa um compromisso firmado e que por isto dá nome à brincadeira que surge para demonstrar a necessidade que todos têm de assumir alguém como mestre, atitude que implica em que se tenha humildade sufiente para entender que sempre existe alguém mais apto do que nós.

– Boca-de-forno é outro tipo de diversão infantil que fala dá relação mestre-discípulo, neste caso para relembrar a importância da obediência irrestrita àquele que o universo destinou como orientador.

Fico aqui pedindo que Ibeji, os orixás gêmeos que são crianças, estimulem os adultos de maneira que possam orientar os pequeninos para que sejam disciplinados, sem perderem o direito de serem traquinas. E que no mês de outubro as crianças brinquem, brinquem, brinquem… utilizando-se de formas de brincar que não apenas ajudem a organizar suas mentes, mas também seus corpos físicos e espirituais.

 

Por: Maria Stella de Azevedo Santos (Jornal A Tarde)

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