15 de dezembro de 2021

Jovens criam jogo on-line para que mais crianças e adolescentes tenham direito e voz garantidos

“Pedras no Caminho da Participação” é um um jogo para educadores, famílias, crianças, e jovens descobrirem formas de tirar as pedras do caminho da participação e fazer com que mais crianças e adolescentes tenham direito a voz e vez garantidos

Interessados em tornar o debate sobre participação infantil mais dinâmico e divertido, adolescentes mobilizadores da Rede Não Bata, Eduque criaram em 2019 o jogo “Pedras no Caminho da Participação” para ser usado com educadores adultos.

Com a pandemia, os mobilizadores tiveram a ideia de produzir o jogo virtualmente. Para isso, participaram de cursos de criação de jogos digitais, fizeram pesquisas, escreveram roteiro, desenvolveram os personagens e todas as peças do jogo.

“Em 2019 fizemos uma formação com um grupo de educadores adultos para falar sobre a importância da participação e quais os desafios que a gente encontra nesse caminho. Pensamos em como fazer isso de uma maneira divertida, trazendo os adultos para o nosso mundo. No meio da quarentena, estávamos sentindo falta de alguma coisa e tivemos a ideia de adaptar o jogo para o modo virtual”, relata a mobilizadora Rebeca Cassiano, de 16 anos, estudante do 1° ano do Ensino Médio. “A gente não sabia que dava tanto trabalho. Só fazendo mesmo que tivemos realmente noção que a programação é muito coisa muito complicada. Depois de muito persistir, a gente conseguiu!”.

O resultado é uma boa pedida para brincar em família. Além disso, o jogo também pode (e deve) ser utilizado por educadores, em escolas, grupos comunitários e ONGs. A proposta é incentivar a reflexão de crianças, adolescentes, jovens e adultos sobre a importância  da participação como direito e apresentar meios de garantir o direito à participação de crianças e adolescentes.

Israel Izael, de 17 anos, mobilizador da Rede e estudante do 1° ano do Ensino Médio, explica que as pedras do jogo são, simbolicamente, as frases que crianças e jovens costumam ouvir. Expressões como “isso é coisa de adulto”. “As frases que a gente escuta ao decorrer da nossa vida, principalmente nós adolescentes, são barreiras para a gente ganhar o tal prêmio a participação”.

O objetivo é retirar todas as pedras do caminho que impedem a participação de crianças e adolescentes. O final do percurso, sem as pedras, pode representar um avanço ao direito à participação. Cada pedra carrega um problema que impede o acesso direito e a missão do jogador é escolher as melhores soluções para tirar os obstáculos do caminho. A cada resposta certa, o jogador ganha pontos e está mais perto de garantir o direito. Chegando ao fim da jornada, os participantes calculam seus pontos, saberão se estão por dentro do Direito à Participação e receberão indicações de como melhorar sua atuação no tema.

“O jogo não tem uma faixa etária indicada, é para todas as idades. Nossa proposta é que todos pensem sobre o direito à participação”, diz Maria Heloísa Pereira, de 18 anos, estudante do 2º ano do Ensino Médio.

O que é participação infantil e como estimular o debate após o jogo

No Brasil, a participação das crianças está prevista desde 1989 na Convenção dos Direitos das Crianças da ONU (Organização das Nações Unidas), do qual o Brasil é signatário, assim como no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), de 1990.

Ambos documentos apontam para a necessidade de escutar a criança sobre todos os processos e ações que lhe concernem. E em 2016, o Marco Legal da Primeira Infância também aponta sobre a importância de se promover a participação das crianças.

“Estas leis incentivam a participação, mas não garantem. É isso que viemos tentando, que essas leis sejam executadas em todas as esferas, desde a comunidade até nos espaços públicos de decisão e poder. As crianças falam de um mundo adultocêntrico, que existe pautado em como os adultos enxergam o mundo. A sociedade se organiza por esse olhar adulto, sem considerar as crianças, romantizando como elas se expressam e quando se colocam nestes lugares”, explica a educadora social Grasiela Araújo, que orienta os mobilizadores nas atividades.

Uma das vantagens da participação infantil para as crianças é que melhora o diálogo com os adultos, a capacidade de se relacionar com as pessoas e resolver os conflitos. Além disso, ao participar efetivamente, a criança desenvolve o senso crítico, aumenta o conhecimento sobre a realidade e a capacidade de argumentar.

Na medida em que as crianças e adolescentes participam e opinam sobre os combinados em família, sentem-se corresponsáveis para que as mudanças virem realidade. Por fim, toda a sociedade pode colher frutos da participação infantil, pois ela cria condições para que crianças e adolescentes estejam mais presentes nas organizações e instituições comunitárias.

“Falando como jovem mobilizador e por vivência, eu digo que nosso nível de participação é péssimo. Eu ainda tenho o privilégio de participar por conta da rede Não Bata, Eduque, mas no colégio ou até mesmo dentro de casa, não tem muita participação, não. É isso que queremos e é isso que o jogo diz. Nós, adolescentes, temos o direito à participação, essas pedras têm que sair do nosso caminho”, finaliza Israel.

COMO JOGAR

Sobre a Rede Não Bata, Eduque
É um movimento social nacional que atua desde 2006 pela prevenção do uso dos castigos físicos e humilhantes sob o pretexto de educar crianças e adolescentes. Foi responsável por encaminhar e incentivar a tramitação do projeto de lei original da Lei Menino Bernardo, que proíbe a prática em ambiente doméstico e escolar, abrigos e outros espaços de convivência infantojuvenis.

A rede realiza cursos, oficinas, eventos e rodas de diálogo divulgando a educação positiva, e tem como objetivo principal mobilizar e sensibilizar a população para o tema, ainda naturalizado por grande parte da sociedade brasileira. Tem como atores centrais das atividades o grupo de adolescentes mobilizadores, que incentivam e exercem o direito de crianças e adolescentes à participação. Conta ainda com mais de 300 membros e organizações parceiras espalhadas pelo país.

 

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