22 de junho de 2020

Pediatras mostram como ajudar crianças e adolescentes com dificuldades de desenvolvimento a atravessar quarentena

Em virtude da pandemia provocada pela COVID-19, as crianças e adolescentes foram submetidas a mudanças bruscas e importantes em suas rotinas, como a adoção da quarentena, a súbita interrupção das atividades escolares, terapias, prática de esportes e lazer. Isso produziu grande impacto emocional e acaba repercutindo, ainda mais, nas crianças com problemas de desenvolvimento, aquelas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), por exemplo.

Por este motivo, o Departamento Científico de Neurologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou nesta sexta-feira (19) uma nota de alerta com orientações para pais e responsáveis sobre como ajudar os filhos nesse momento e atravessar esse período conturbado de maneira menos aflitiva possível.

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Para as crianças é importante definir objetivos diários que sejam alcançáveis e manter a rotina de alimentação para evitar o aumento da ansiedade e do estresse. Entre as dicas para ajudar as crianças a ficarem distraídas em casa e ajudá-las a passar o tempo, estão a realização e inclusão das atividades que conciliem o tempo e as necessidades delas, como brincadeiras – que estimulam a curiosidade e a criatividade das crianças  – que vão desde um quebra-cabeça ou desenhos livres até um jogo de “esconde-esconde” ou atividades manuais.

Conforme ressalta o texto, as brincadeiras não “substituem” as terapias inseridas em um programa de reabilitação, mas têm a excelente qualidade de reunir a criança e seus pais ou cuidadores numa atividade lúdica. O documento também fala sobre sempre procurar oportunidades para interagir com outras crianças, principalmente as que fazem parte de sua rotina, seja por meio de vídeos, ligações ou jogos online. Além de, em momentos de crise, oferecer escolhas que visam a aumentar o sentimento de autonomia e motivação.

Para a presidente da SBP, dra. Luciana Rodrigues Silva, é muito importante que os pais, responsáveis e cuidadores escutem o que as crianças estão dizendo e prestem atenção nos sinais que estão dando. “Se a criança ou adolescente for verbal, estimule-a a expressar como se sente, pergunte sobre suas as preocupações, e procure tranquilizá-lo. Se ainda não tiver habilidades verbais, dê atenção especial aos gestos e às variações do comportamento, que podem denunciar o grau de desconforto. Muitas crianças não verbais são capazes de entender explicações simples sobre o que está acontecendo à sua volta”, enfatiza.

REGRAS E LIMITES – Os pediatras destacam que é importante também que a criança aprenda a conviver com mudanças em sua rotina. Dessa forma, pode-se utilizar fotos, desenhos ou imagens que demonstrem objetivos a serem atingidos ou anunciem as atividades daquele dia. Entre os exemplos citados, estão mostrar a imagem de uma escova de dente, uma família durante uma refeição, por exemplo. Além disso, estimular a criança a atingir os objetivos, colocando-as na sequência que devem ocorrer, facilita o seu engajamento. É importante parabenizar a cada realização bem-sucedida porque caracteriza um reforço positivo.

É ideal a criação de nova rotinas, mas, muitas vezes, é mais difícil em virtude da rigidez comportamental que muitas crianças com TEA apresentam. Portanto, os especialistas sugerem tentar uma transição gradual, com regras claras, consistentes e concretas.

Outro ponto importante é o planejamento prévio do tempo de telas na programação diária e o uso de um temporizador visual para controle do tempo pela própria criança. Para isso, deve-se planejar esse tempo antes das atividades preferidas, porque desligar os dispositivos antes de um lanche será mais fácil do que antes de uma atividade acadêmica.

Para o estudo, sugere-se a criação de um ambiente “escolar”, que possua poucas distrações, e que inclua uma lista visual das tarefas a cumprir em determinada sequência.

TERAPIAS – Outra questão abordada é o que fazer para não prejudicar os ganhos da criança nas terapias. Para isso, os especialistas sugerem que os pais, crianças e adolescentes mantenham contato com os terapeutas para que eles possam auxiliar com dicas de tarefas domiciliares e possam ocorrer até mesmo sessões online.

Muitas crianças passam por períodos de regressão do desenvolvimento ou recrudescimento de sintomas que já estavam superados ou bem reduzidos. É possível que tais períodos sejam mais intensos durante a quarentena, mas é necessário ter em mente que a recuperação das habilidades costuma ocorrer do mesmo modo.

COMPORTAMENTO – O texto enfatiza que crianças com TEA costumam ter dificuldades em expressar verbalmente seus sentimentos, tais como medo, ansiedade, desconforto com a rotina, e em compreender o motivo do confinamento. Por isso, os pais precisam estar atentos a mudanças comportamentais ou intensificação de disfunções preexistentes: mudanças no padrão de sono e consequente piora do comportamento durante o dia; alteração no apetite; irritabilidade e/ ou aumento da agitação; aumento de comportamentos repetitivos; e preocupação excessiva ou ruminação.

“Caso essas alterações sejam observadas, é importante que os pais entrem em contato com o seu médico de referência e com a equipe multidisciplinar para que uma intervenção apropriada seja aplicada, podendo incluir também ajustes na medicação”, explicam os especialistas do DC de Neurologia.

Fonte: SBP

 

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