21 de dezembro de 2011

Quem é especialista na sua criança?

Pais buscam fora de casa soluções mágicas para os conflitos,
mas esquecem que o Google não tem filhos

“As crianças estão mais agressivas hoje em dia”, me afirmou com convicção uma jovem mãe. Ela acabara de ter uma reunião com a coordenadora da escola que a filha frequenta justamente por esse motivo: a menina andava agredindo os colegas de classe com regularidade, tanto física quanto verbalmente. A idade? Cinco anos.

Segundo as palavras dessa mãe, ela não sabe como a garota desenvolveu essa estratégia na convivência com os colegas. “Em casa não costumamos ser agressivos uns com os outros e sempre ensinamos as crianças a fazerem o mesmo. E ainda assim ela briga com os irmãos, os primos e os colegas de classe.”

Ah! E a garotinha também não é uma filha que essa mãe possa chamar de obediente ou educada em relação aos pais e a outros adultos.

Essa mãe disse que não sabia o que deveria fazer para ensinar a filha a ser mais obediente e educada. Ela terminou nossa conversa dizendo que iria insistir na estratégia que sempre usara com sua filha: conversar.

Qualquer pessoa que já ouviu pais com atenção sabe que a queixa da indisciplina tem sido bem frequente.

Pais com filhos de todas as idades reclamam de desobediência, de falta de limites, de agressividade exagerada da parte dos seus filhos.

Para começo de conversa, vamos lembrar da estratégia que a mãe de nosso exemplo de hoje usa para educar a filha para a boa convivência: conversar. Essa tem sido uma solução encontrada por muitos pais, não é verdade?

Pois aí temos uma contradição digna de ser refletida: por que, justamente quando a estratégia educativa usada é mais democrática, a agressividade e a desobediência andam tão em alta? Vamos levantar algumas hipóteses.

Conversando o tanto que converso com pais, fui tendo cada vez mais clareza a respeito de como eles se veem no exercício de sua tarefa educativa com os filhos.

E constatei uma questão que considero importante: muitos pais, hoje, duvidam de sua própria capacidade de educar os filhos para uma boa convivência.

A fala que eu mais costumo ouvir em conversas desse tipo foi dita pela mãe de nosso exemplo de hoje: “Eu não sei o que fazer”.

E é por causa dessa impotência que muitos pais buscam fora do contexto familiar e da relação com a criança soluções quase mágicas para resolver aquilo que consideram um problema.

Diversos especialistas têm sido convocados a tratar de “crianças agressivas”. A internet tem sido muito usada, também, na busca de orientações ou conselhos.

Aliás, recebi dias atrás uma mensagem de uma mãe que, nessa pesquisa na internet, encontrou um texto meu. Disse ela: “Gostei de seu texto, mas eu preciso de orientações mais claras sobre como fazer e você não escreveu nada disso”.

A esses pais, vou repetir duas frases que vi em uma peça promocional feita por e dirigida a mães. A primeira: “Você é a especialista em seu filho”. A segunda, uma advertência bem-humorada, eu adorei: “O Google não tem filhos”. Ambas sintetizam a ideia de que os pais devem se sentir potentes para buscar e encontrar melhores soluções para dificuldades que enfrentam na educação dos filhos.

Outro fator que não podemos ignorar é o quanto as crianças estão expostas aos meios de comunicação.

Programas infantis -dos chamados educativos aos considerados violentos- mostram conflitos de todos os tipos e tratados com agressividade longamente. Já a solução do conflito ganha bem menos tempo, não é verdade?

E o que dizer dos programas para adultos aos quais os pequenos assistem? Isso só ensina a criança a refinar o uso de sua agressividade.

Precisamos de mais pais que não duvidem de seu potencial educativo nas situações difíceis e de mais civilidade na convivência adulta, já que esta serve de padrão aos mais novos.

 

Fonte: Rosely Sayão

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