21 de maio de 2020

Pesquisa inédita da UFC revela níveis elevados de estresse e risco de depressão em gestantes no distanciamento

Pesquisa inédita da Universidade Federal do Ceará revelou níveis elevados de estresse e risco de depressão em mulheres grávidas de Fortaleza, no período de distanciamento social decorrente da COVID-19. Coordenado pela Profª Márcia Machado, da Faculdade de Medicina da UFC, o estudo mostrou que cerca de 43% das gestantes demonstram medo, ansiedade e transtornos do comportamento, índice considerado alto, se comparado com a média de 25% detectada em pesquisas realizadas em outros períodos, a exemplo da Pesquisa de Saúde Materno-Infantil no Ceará/UFC (PESMIC).

O estudo “Gravidez durante a COVID-19 em Fortaleza, Ceará: percepção materna sobre saúde, expectativas, medo e os cuidados prestados ao filho”, realizado de forma on-line durante o período de distanciamento, contou com a participação de 1.041 mulheres, abrangendo todas as regionais administrativas da Capital. A pesquisa utilizou como parâmetros duas escalas sobre saúde mental (SRQ e “Fear of COVID-19”).

As gestantes responderam aos questionários enviados pelo WhatsApp e outras redes sociais, com apoio de lideranças comunitárias e de serviços do Estado e do Município. Resultados preliminares apontam que 84,3% sentem desconforto ao pensar na COVID-19; 74,6% sentem-se assustadas ao pensar no coronavírus; 18,7% não conseguem dormir; 75,3% sentem-se nervosas ao assistir a notícias na televisão; 49,8% têm chorado mais do que o costume; e 57,9% têm se sentido triste ultimamente.

Das 1.041 mulheres, 335 afirmaram ter filhos de 1 a 5 anos completos. Perguntadas sobre como agiram com os filhos nos 15 dias anteriores ao preenchimento do questionário, 18,8% disseram ter batido no filho; 70,6% ter gritado; 20,1% ter puxado a orelha, dado tapa ou batido na mão. Para a Profª Márcia Machado, os dados são reveladores do nível de estresse no período de isolamento, se comparados com outros estudos que costumam avaliar a saúde mental de grávidas em períodos “normais”.

A pesquisadora chama a atenção para o fato de a maioria das respondentes ser casada (ou viver em união estável) e ter pelo menos o ensino médio concluído: “Se essa população que tem níveis de escolaridade maior e vive com um companheiro apresentou nível elevado de estresse, podemos imaginar como estão as mulheres que vivem em situação de extrema pobreza“, reflete a Profª Márcia.

Transtornos psicológicos ou psiquiátricos na gravidez podem trazer consequências para a saúde da mulher e do bebê. Segundo a pesquisadora, há relação entre esses fatores e a maior incidência de partos prematuros ou de crianças nascidas com baixo peso, por exemplo.

Além disso, o nível de estresse pode acarretar maiores níveis de agressividade com filhos e parceiros, o que também prejudica o desenvolvimento infantil. Márcia aponta, portanto, para a necessidade da criação de protocolos especiais de atenção básica que garantam o acompanhamento de mulheres durante a gravidez e no pós-parto, neste período de pandemia.

Os dados completos da pesquisa deverão, em breve, ser publicados em periódicos nacionais e internacionais. Segundo a Profª Márcia, não há estudos semelhantes concluídos sobre essa situação específica de mulheres grávidas durante o distanciamento social. A proposta é ampliar essa pesquisa e acompanhar aquelas mulheres e seus bebês após o parto, por um período de três anos.

A pesquisa foi financiada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e contou com a participação de estudantes de pós-graduação da UFC (Camila Machado de Aquino, Jordan Prazeres Freitas, Francisco Ariclene Oliveira, Edgar Sampaio); de professores dos departamentos de Saúde Pública e de Saúde Materno-Infantil da UFC (Luciano Lima Correia, Hermano Lima Rocha, Herlânio Costa Carvalho); da presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras do Ceará, Liduina de Albuquerque Rocha de Sousa; da professora da Universidade de Ribeirão Preto Elisa Altafim; e da professora da Harvard T.H Chan School of Public Health, Marcia C. Castro.

Fonte: Universidade Federal do Ceará

 

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